O trabalho desenvolvido pela equipe de enfermagem tem papel central na organização dos serviços de saúde no Brasil, principalmente no que diz respeito ao atendimento ao paciente em instituições hospitalares. Diante da atual situação, observa-se que o trabalho desenvolvido nos estabelecimentos de prestação de serviços de saúde em muitos casos é deficiente em função das condições de vida e de trabalho às quais está submetida a grande maioria dos trabalhadores de enfermagem, gerando descontentamento da equipe, assim como dos pacientes atendidos pela mesma e suas famílias14.
Os trabalhadores dos serviços públicos, inseridos em um contexto sócio-econômico neoliberal, vêm paulatinamente sofrendo as conseqüências da redução do seu poder aquisitivo. As saídas buscadas pela grande maioria dos servidores públicos no setor da saúde, sobretudo na enfermagem, tem sido a adoção de outros vínculos empregatícios, realidade essa que pode ser constatadas em instituições públicas e privadas. A insegurança gerada pelo desemprego faz com que os trabalhadores se submetam a regimes e contratos de trabalho precários10. Especificamente no caso dos profissionais de enfermagem, por desenvolverem as suas atividades em escalas de plantão, constata-se a existência de uma facilitação na conciliação das escalas, podendo o mesmo acumular duas ou até três escalas de trabalho. Comprova-se que todas as formas adotadas por esses trabalhadores, para a complementação da sua renda mediante a falta de perspectiva de valorização salarial resultam no aumento da jornada de trabalho. Ao ingressar no serviço público, na maioria dos casos, os servidores assumem uma jornada de trabalho de 40 horas semanais ou 144 horas mensais, porém, com o multiemprego e/ou escalas extras, as horas efetivamente trabalhadas podem chegar a 80 ou até 120 horas semanais11.
Constata-se atualmente nos trabalhadores do serviço público uma frustração pela falta de material, o que exige uma maior capacidade de improvisação desses trabalhadores para a realização de procedimento, deixando-os insatisfeitos em relação à assistência prestada ao paciente. Esses elementos somados podem desencadear o sofrimento no cotidiano desses trabalhadores9.
Nas tarefas ditas de execução, o trabalhador se vê de algum modo impedido de fazer corretamente seu trabalho, constrangido por métodos e regulamentos incompatíveis entre si. Essa precariedade das condições de trabalho, somadas à dificuldade de convivência com os colegas de profissão, acarretam prejuízos na vida cotidiana privada desse trabalhador, tendo em vista que pela permanência no hospital, devido às escalas extras de plantões, esses trabalhadores se vêem forçados a abdicar do seu lazer em prol de melhores condições salariais, mas, para isso, sacrificam parte do tempo dedicado à convivência familiar, o que gera um sentimento de vazio e fragilização dos laços afetivos12.
Além disso, as condições de trabalho da enfermagem implicam em multiplicidade de funções repetitivas, ritmo intenso e excessivo de trabalho, esforços físicos desgastantes, longas jornadas de trabalho, monotonia, posições incômodas e antiergonômicas, no trabalho em turnos exaustivos, nos rodízios e na separação do trabalho intelectual e manual. O número insuficiente de trabalhadores é outro fator que, associado aos supra citados, pode contribuir para a insatisfação dos funcionários, em função da sobrecarga de serviço o que leva a queda na qualidade dos serviços prestados pelos funcionários da instituição, e está relacionado à elevação dos níveis de absenteísmo, além de desorganizar o serviço14.
Nos estabelecimentos de prestação de serviços de saúde em geral, a enfermagem se constitui na maior força de trabalho. Apesar da evolução das práticas científicas em administração, em muitas unidades hospitalares, ainda são utilizados princípios da administração propostos por Taylor e Fayol, os quais enfatizam a divisão e fragmentação do trabalho e a rigidez hierárquica. Nesse contexto o processo de enfermagem é desenvolvido através de tarefas com um rígido arcabouço hierárquico para o cumprimento de normas, rotinas, e regulamentos. Tudo isso associado à quantidade de pessoal insuficiente, e a situação de riscos ocupacionais aos quais estão expostos os profissionais, têm como conseqüência a insatisfação destes, fato que tem repercutido em elevado absenteísmo e afastamentos por doenças em diversas unidades hospitalares13.
No ambiente hospitalar, sempre há riscos que atingem mais comumente os trabalhadores que lidam diretamente com o paciente, entre os quais podemos salientar os riscos biológicos, ergonômicos, químicos, físicos, mecânicos, psicológicos e sociais. E é por permanecer mais tempo nesse ambiente, realizando a maioria dos procedimentos em contato direto com o paciente, que o pessoal de enfermagem está mais freqüentemente exposto aos riscos ocupacionais existentes16.
Assim, entendemos que a equipe de Enfermagem está entre as principais categorias sujeitas à exposição ocupacional e esse elevado número de exposições relaciona-se com o fato de o grupo ocupar o maior número de trabalhadores na equipe de saúde e ter contato mais direto na assistência aos pacientes e também pela freqüência de procedimentos realizados por seus profissionais. Ou seja, essa situação imediata de predisposição aos riscos ocupacionais está imbricada com o contexto mais específico do trabalho hospitalar.
Autoras:
LARISSA MENDONÇA DOS SANTOS
ORIENTADORA: CLÁUDIA SILVA LANA
Fonte: claudialana.com
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