No fim deste mês de agosto, um referendo pode colocar a Islândia em lugar de destaque na política internacional. O país está inovando ao discutir a criação de uma nova Constituição através das redes sociais. Por meio de vídeos no youtube, fotos no flickr, frases no twitter e, sobretudo, discussões no facebook, que reúne 2/3 da população do país, o Conselho Constitucional Islandês divulgou e recebeu sugestões do público sobre um relatório que trata de suas leis nacionais básicas. O documento final, fruto deste processo do qual participou quase toda a população islandesa, de 320 mil habitantes, será votado em breve, trazendo à tona a importância da discussão da democracia no século XXI.
Segundo Henrique Antoun, professor da Escola de Comunicação da UFRJ e pesquisador do Grupo Ciberidea, núcleo de pesquisa em tecnologia, cultura e subjetividade, este processo aponta uma tendência que pode vir a ser adotada por outros países e que somente acontece devido às especificidades da rede. “A internet é diferente de outras mídias, que estão ligadas ao capitalismo disciplinar, onde poucos falavam e muitos eram influenciados. Ela reordenou os movimentos sociais. Isso só foi possível porque ela é um modelo de comunicação ‘muitos-muitos’ e porque ela coordena a ação coletiva, eliminando a dos intermediários”, explica o professor.
Antoun frisa que o tamanho da Islândia também foi decisivo para que tal processo se instalasse. “É muito mais fácil coordenar um processo coletivo com 350 mil pessoas, num país que tem dois terços de sua população no facebook. A Islândia é culturalmente muito avançada, o processo é mais civilizado”, afirma o especialista em cibercultura. Para Antoun, criar uma Constituição significa não só um avanço da democracia, e sim uma reconfiguração. “Hoje o movimento é de desintermediação. A democracia representativa apodreceu. Vemos isso no que está acontecendo na Ásia, África, Oriente Médio: a luta social está se emancipando dos partidos, dos intermediadores. Ela não tem porta-vozes, fala por si mesma; ninguém mais aceita que alguém fale por si”, defende o docente.
Para Antoun, já no início dos anos 1990 o mundo assistiu ao que talvez tenha sido o “primeiro movimento guerrilheiro pós-moderno”, com o Zapatismo, no México. De acordo com ele, em 1994, as mídias e a ainda incipiente internet conseguiram unir dois seguimentos, as ONGs e as guerrilhas, em meio ambiente democrático.
No Brasil, país com população mais de quinhentas vezes maior que a islandesa, Antoun também já vê provas da influência das novas mídias. “Na gestão de Gilberto Gil como Ministro da Cultura, a lei do marco civil da internet foi criada usando a rede social do Ministério. A luta social contra as remoções do prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e do Secretário de Obras, Luiz Fernando de Souza Pezão, está sendo massiva na rede”, conclui o professor.
Fonte: olharvirtual.ufrj.br
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