Na enfermagem brasileira, não há uma cultura de discussão das questões políticas. Por esta razão os profissionais desta nobre profissão dificilmente vêem com bons olhos o exercício da discussão sobre políticas, seja ela partidária ou não. Mais grave que isto é o fato de que muitas colegas nossas se quer vê qualquer diferença entre tal e qual política é esta ou aquela, fazendo com que as colegas não percebam que devemos compreendê-las para que possamos buscar melhorar a atual correlação de forças atuantes na conjuntura socioeconômica em que estamos inseridos, de modo a tornar mais favorável para nossa categoria.
Por não haver discussão de caráter político-técnico ou político-social ou político-partidário entre os nossos colegas, incluindo entre os que dirigem os processos, comandam as equipes, organizam o fazer cotidiano e que respondem pela acomodação de cada elemento no processo de trabalho entre as equipes a partir de uma organização hierárquica da nossa profissão.
As razões são muitas e diversificadas, incluindo o fato de que a enfermagem ao longo da sua historia teve poucas manifestações de levantes contra os organismos institucionais que a oprimia. Em geral a Enfermagem e seus membros mais engajados contribuíam mais nas atividades políticas propostas por outros profissionais do que a partir de uma demanda própria sua.
Isto, apesar de não ser uma exclusividade da nossa profissão, muito contribuiu para que não tenhamos alcançado muitas conquistas, pois como ocorre também em outras profissões, a não tomada de posicionamentos frente à questões importantes, sobretudo, em decorrência da falta de conhecimento devido a insuficiente discussão acerca das estruturas ideológicas que se apresentam por trás destas questões nos deixam fora dos espaços de poder.
Embora saibamos que a vitória só é possível a partir da luta, parece que não somos capazes de enxergar que muitas das nossas derrotas se devem a ausência de um contingente representativo da nossa categoria nos momentos de enfrentamento, incluindo-se o enfrentamento das classes.
O quadro não é muito diferente nas demais profissões atuantes na área da saúde, considerando as relações de poder presentes nos nosocômios e demais unidades onde se exerçam o “controle” sobre vida (propriedade) e/ou morte (perda de patrimônio vital) dos que se interessam pela ética e suas matrizes teóricas, no que concerne a apropriação do mais valioso “bem” constituinte na sociedade: a própria vida. Portanto, não há por quê achar-se estranho, a expropriação e descarte político contumaz desta parcela de fundamental importância no corpo funcional que atende às infindas demandas por assistência em saúde presentes e atuantes numa assimétrica sociedade, como a brasileira.
A questão primordial é que a Enfermagem, diferentemente das demais profissões, possui o maior contingente de atuação. Sendo também a única categoria que acompanha o paciente desde o nascimento até o “post-mortem”, estando ao seu lado nas instituições de saúde nas 24 horas do dia. Além de ser a que possui a formação mais holística de todas as que atuam na saúde.
Hoje sabemos que as mudanças são emergenciais e que precisam acontecer no seio da categoria, permitindo uma melhor compreensão e a decorrente melhor abordagem sobre as lutas de classes existentes, de modo que cada profissional da Enfermagem seja capaz de, não só se solidarizar, mas também de se posicionar frente à estas questões.
Este movimento não pode ser dependente apenas da ação dos homens e mulheres de nossa profissão, mas deve ser pautado e permitido, mais do que isto incentivados pelos órgãos e instituições da nossa Enfermagem, de modo a reestruturar a influência do poder econômico no próprio sistema em que a profissão opera.
Sabemos também que, além disto, é necessário discutir as políticas públicas e privadas para o setor Saúde, de modo a favorecer, ao mesmo tempo um empoderamento da Enfermagem e a defesa dos que são os maiores prejudicados pela ma qualidade da assistência pública de saúde, isto é a população menos favorecida.
Por fim, é necessário rediscutir a relação entre a mais-valia praticada pelo empresariado e pelos governos, de modo que se pense em um modelo menos explorador, especialmente para os Auxiliares e Técnicos de Enfermagem, que historicamente são os que mais trabalho físico realizam e que menos são remunerados.
É preciso, portanto que sejam empoderados através da eleição de “novos” representantes da nossa categoria nos diversos níveis de governo: Federal, Estadual e Municipal, além de se fazer presente nas diversas esferas de poder: Legislativo, executivo e, por que não, no judiciário.
Aqui no Rio de Janeiro, tivemos o privilégio de eleger uma camarada, a Enfermeira Rejane Almeida, para a ALERJ, agora precisamos fazer um esforço maior para que possamos eleger prefeitos e vereadores em diversas cidades do nosso Estado para que se possa dotar os profissionais de uma maior representação política e por decorrência se desenvolva uma consciência cidadã, reduzindo no que for possível a histórica passividade no universo dialógico entre a nossa categoria, enquanto profissão e os seus pares nos diversos espaços sócio-econômico-político.
Afinal, estamos convictos de que “Democracia de verdade” se faz com participação popular, o que não é nenhuma novidade, pois já foi dito por “Platão”, no século V a.C. Mas precisamos por em prática no cotidiano da nossa profissão.
Washington Ramos Castro
Enfermeiro / Sindicalista
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